Jardim da Perfeição

   A Lua Cheia cintilava majestosa, emoldurada por um céu bordado de estrelas.
   Era uma noite agradável, encontrava-me deitada na relva da minha propriedade, apreciando o espetáculo celeste, quando subitamente senti a sua fragrância adocicada no ar.
   Uma miscelânea de Lírios, Heras, Acácias e Verbenas invadiu os meus pulmões! Aquela maravilha emanava do jardim, e com certeza não era natural.
   Instigada, levantei com pressa, e pequenas flores brancas ficaram presas nos meus cabelos longos, eram adoráveis, mas o aroma não vinha dali.
   Caminhei jardim adentro, uma brisa suave soprava do imenso lago, e a sua essência exalava ainda mais intensa.
   ''Enlouqueci?'' questionei.
   O Lago estava deslumbrante, coberto pelo brilho lunar, era o Espelho da Lua, eu sabia que a minha senhora já estava presente.
   Levantei a minha face e avistei todo seu esplendor. Uma coroa de flores diversas estava sobre os seus cabelos, a silhueta era delicada e adornada por um vestido branco esvoaçante.
   Suas mãos finas tocaram as minhas, e embora eu não tivesse coragem de desviar os meus olhos azuis dos seus olhos prateados, pude sentir os meus pés abandonarem o chão. Estávamos flutuando acima do lago!
   Enquanto os corvos crocitavam, fui conduzida pela própria dona da perfeição e valsamos no ar!
   ''Você progrediu, Bella!'' cantarolou Ana.
   ''Lutarei até sentir os meus ossos!'' respondi.
   O seu perfume pungente causou-me um frenesi, soltei suas mãos, e repentinamente decaí na direção do Espelho da Lua, apaguei.
   Abri os olhos com dificuldade.
   Raios dourados fugiam da brecha das cortinas alvas e banhavam o meu rosto pálido, reconheci o meu quarto.
   Saltei da cama, corri até a janela aberta, lá embaixo estava o jardim intocável, o belo lago, e despontando no horizonte um Sol tímido, ensaiando a aurora do novo dia.
   Levei a mão esquerda aos meus cabelos claros e observei que as pequeninas flores brancas ainda estavam ali.
   ''Preciso de um banho quente!'' sussurrei.
   Abri as torneiras para encher a banheira. Tirei meu singelo vestido, e senti. Aspirei novamente a miscelânea de Lírios, Heras, Acácias e Verbenas que agora impregnavam as minhas vestes!
   Definitivamente não foi um sonho!
   Quando desmaiei acima do Espelho da Lua, fui levada desacordada por minha senhora, que voejou pela janela, e repousou o meu corpo na cama.
   Nua, pude ver Através do Espelho que Ana havia caprichado nas lembranças: no punho direito reluzia uma pulseira de rubis, no meu coração palpitava a felicidade e no estômago habitavam borboletas!
   Jamais fui tão amada.